A Lava Jato perdeu o pudor. O nome Triplo X,
referência sibilina ao mítico ‘Triplex do Lula’ é um acinte. Está claro que se
trata de erradicar não a corrupção – mas de caçar Lula.
Fosse outro o propósito você não teria um ataque
tão sistemático a Lula enquanto um homem como Eduardo Cunha borboleteia, livre
para armar as delinquências em que é mestre. Era mais honesto batizar a
operação como Caça Lula.
Os suíços entregaram de bandeja documentos que
comprovam corrupção em níveis pavorosos de Cunha. Ele mentiu, sonegou, inventou
desculpas aberradoras e usou até a palavra ‘usufrutuário’ para tentar encobrir
sua condição de dono de milhões na Suíça. Não foi apenas isso.
Depoimentos de fontes variadas coincidiram em
relatar ameaças de paus mandados de Cunha contra pessoas que pudessem dizer
coisas comprometedoras contra ele. Vídeos mostraram expressões aterrorizadas de
delatores ameaçados por homens de Cunha. Parecia coisa de Máfia.
Falaram até na família. Em filhos. Disseram que
tinham o endereço para a retaliação. Não foi um depoimento nesse gênero. Foram
pelo menos três, dois de delatores e um de um deputado que era um problema para
Cunha na Comissão de Ética que o julga.
Que mais queriam? Que um cadáver amanhecesse
boiando num rio? E as trocas de emails com empresas beneficiárias de medidas
provisórias? Com esse conjunto avassalador de evidências, Eduardo Cunha aí
está, na presidência da Câmara, ainda no comando de um processo viciadíssimo
que pode cassar 54 milhões de votos.
Cadê a Polícia Federal? Cadê Moro? Cadê uma
operação realmente para valer para investigar as delinquências conhecidíssimas
de Cunha. Nada. Nada. Nada. É uma bofetada moral inominável nos brasileiros. É
a completa desmoralização da política. Enquanto a vida é mansa para Cunha, para
Lula é uma sucessão infindável de agressões.
Virou piada que até ser amigo de Lula se
caracterize como algo capaz de incriminá-lo. Mas coloquemos o adjetivo certo: é
uma piada repulsiva. Um apartamento banal numa praia banal – a cidade plebeia
do Guarujá – adquire ares de uma propriedade suntuosa que Lula jamais poderia
comprar. É um tríplex, uma palavra feita para impressionar e ludibriar a
distinta audiência.
Não interessa se quatro ou cinco palestras de Lula
seriam suficientes para comprar o apartamento. Não interessa se ele tem
documentos que comprovam que ele não comprou, afinal, o imóvel.
O que importa é
enodoar a imagem de Lula. Caracterizá-lo como um corrupto, um ladrão, um
monstro de nove dedos. O maior vilão da história do Brasil.
Alguém – PF, Moro, imprensa – deu um passo para
saber se a residência de Eduardo Cunha é compatível com seus rendimentos de
deputado? Alguém apurou se ele tem condições de bancar uma vida de fausto para
a mulher, à base joias e extravagâncias como aulas de tênis no exterior?
Ninguém. É um país doente aquele que protege
Eduardo Cunha e investe selvagemente contra um homem que cometeu o pecado de
colocar os excluídos na agenda nacional como nenhum outro desde Getúlio Vargas.
Estamos enfermos – e Moro e sua Lava Jato são
sintomas eloquentes dessa nossa deformação moral. *Paulo Nogueira é
jornalista e editor do Diário do Centro do Mundo.
FONTE: http://www.luizcouto.com/
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