sábado, 26 de dezembro de 2015

“Com esse modelo vamos ao encontro de catástrofes cada vez mais agudas”, alerta Leonardo Boff

(*) Foto de capa: www.ideiaweb.org.br; (Por Eduardo Sá - Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)

Durante sua palestra num evento literário no Rio de Janeiro, o teólogo Leonardo Boff não poupou críticas ao sistema brasileiro. Em defesa dos indígenas, criticando o racismo existente no país e o patriarcalismo, aos 77 anos mantém sua insatisfação acesa com os rumos da nossa civilização. Por que um país tão rico tem tantos pobres e é tão atrasado, questionou.

Embora aponte que quase 80% das grandes empresas determinem o destino do parlamento, graças ao que ele chamou de conciliação que sempre triunfa contra o povo no país, suas críticas são no sentido de manter o Partido dos Trabalhadores (PT) na direção do Brasil.

Faz uma oposição construtiva, distante do modelo propagado pelo Partido Social da Democracia Brasileira (PSDB). Liderou um Manifesto com intelectuais e artistas em Defesa das Instituições Democráticas.

Na entrevista à Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), analisa o atual cenário de instabilidade política e econômica no Brasil. Afirma que não é possível melhorar a nação sem reformas estruturantes, inclusive dos meios de comunicação. Acredita que a agroecologia é o caminho para alimentar a população e garantir sua saúde.
Ocorreu recentemente uma catástrofe no Rio Doce, qual a sua avaliação sobre o modelo de desenvolvimento brasileiro em relação ao meio ambiente? O Brasil não desenvolveu ainda uma consciência de responsabilidade ecológica, ele ainda vê a relação desenvolvimento e natureza quando a grande questão é ser humano e natureza. 
E vimos naquele grande desastre da Samarco, no Rio Doce, uma irresponsabilidade do ser humano face à natureza que ele não cuidou e não previu. Deixou que ocorressem riscos e agora colhemos um desastre, que vai afetar aquela região de quase 600 quilômetros por dez anos. Temos de nos conscientizar que com esse modelo vamos ao encontro de catástrofes cada vez mais agudas.

Mudar de paradigmas, isto é, redefinir uma relação nova do ser humano com a natureza sentindo-se parte e não dono dela. Não podemos fazer com os bens e serviços dela o que quisermos, nossa missão é cuidar da natureza para que ela continue nos dando tudo o que precisamos para viver. 

E ao mesmo tempo abrir uma esperança para o futuro de nossa civilização, do próprio planeta terra, porque com o aquecimento global e o processo de devastação globalizado hoje há o risco de ir ao encontro de um abismo. Então, temos de tomar consciência até pelo instinto de sobrevivência.

Em 2012 a Dilma instituiu uma Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, no entanto temos a Kátia Abreu que é uma figura expoente do agronegócio como ministra da agricultura e um modelo que segue a linha da monocultura e das commodities. Como você vê esse modelo com a hegemonia do agronegócio muito evidente?

O Pentágono trabalha com um mundo, um império, e o papa na sua encíclica sobre como cuidar da causa comum diz: uma casa comum e um cuidado comum. Essa que é a verdadeira alternativa, não é o império e um mundo.
É o mundo e um projeto para o mundo, que é cuidar da terra. Você acha que pelos temas tabus que o papa têm tocado, ele corre o risco de ser assassinado? Ele está sendo muito radical no meio conservador em que atua?
Ele não só é um grande líder religioso, é também um grande líder político. Porque pela primeira vez um papa do terceiro mundo traz a cultura do terceiro mundo, que é a crítica ao capitalismo, a opção pelos pobres, a busca da libertação. Ele disse isso sem meias palavras.
Condena o atual ritmo da história como perverso inimigo da vida que sacrifica a humanidade. E ao mesmo tempo toma uma posição clara ao lado dos pobres, dos oprimidos, na defesa da mãe terra, que nunca aconteceu antes, então é irradiador de esperança. Apoia todos os grupos alternativos que sonham com um mundo diferente e necessário.
Fonte: http://www.asabrasil.org.br/

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