O resgate, a conservação e
a valorização das raças nativas de animais do Semiárido brasileiro foram os
principais compromissos assumidos por todas as organizações que estiveram
presentes no Seminário Raças Nativas na Agricultura Familiar Agroecológica,realizado
de 17 a 19 de novembro, no Santuário Padre Ibiapina, em Arara, município do
Agreste paraibano, a cerca de 170 quilômetros de João Pessoa.
O evento, que reuniu cerca
de 80 pessoas, foi promovido pelo Instituto de Assessoria à Cidadania e ao
Desenvolvimento Local Sustentável (IDS), contratado pelo Incra/PB para promover
a articulação institucional e assessoria técnico-pedagógica às equipes que
prestam assistência técnica aos assentamentos, e pelo Núcleo de Extensão Rural
Agroecológica (Nera) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Em parceira com organizações da Articulação do
Semiárido Paraibano, como o Coletivo das Organizações da Agricultura Familiar
do Cariri, Seridó e Curimataú, o Programa de Aplicação de Tecnologias
Apropriadas às Comunidades (Patac), o Pólo Sindical da Borborema, a Assessoria
e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) e o Coletivo ASA
Cariri Oriental (Casaco).
O Seminário teve como
objetivos aprofundar a reflexão sobre a importância das raças nativas na
agricultura familiar de base agroecológica para a convivência com o Semiárido;
analisar a influência das especializações e suas ameaças ao sistema de criação
animal agroecológico.
Bem como refletir sobre o
papel das políticas públicas governamentais voltadas para a criação animal e
identificar desafios e perspectivas no sentido de fortalecer o resgate das
raças nativas para as famílias agricultoras e de áreas de reforma agrária.
Quatro das seis entidades
contratadas pelo Incra para prestar Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater)
aos assentamentos paraibanos participaram do Seminário: a Cooperativa de
Prestação de Serviços Técnicos da Reforma Agrária da Paraíba (Cooptera), a
Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Autopromoção
(Coonap).
A Associação Centro de Capacitação João Pedro
Teixeira (ACCJPT) e o Instituto Penha e Margarida (Ipema). Técnicos e
assentados assistidos pelas entidades em cinco núcleos territoriais (Curimataú,
entorno de Alagoa Grande, Borborema, entorno de Mari e Bananeiras) estiveram
presentes no evento.
O Seminário contou ainda
com a participação da Red Combiand, uma articulação ibero-americana que reúne
pesquisadores de cerca de 20 países que estudam raças nativas e adaptadas para
o desenvolvimento sustentável.
Dois pesquisadores da Red
participaram do encontro: Maria Esperanza Camacho, do Instituto Andaluz de
Investigación y Formación Agraria y Pesquera, e Juan Vicent Delgado Bermejo, da
Universidad de Córdoba. Experiências da Ater.
Dois dos quatro
agricultores guardiões de raças nativas de animais que apresentaram suas
experiências no primeiro dia do evento, e foram certificados como guardiões de
raças nativas pela Coordenação do Seminário, são assentados da reforma agrária
paraibanos.
José Francisco Benício,
mais conhecido como Seu Zé de Arunda, do Assentamento Maria Preta, no município
de Araçagi (PB), compartilhou sua experiência na preservação de espécies
nativas de insetos do Semiárido.
A família do agricultor,
assistida pela zootecnista da ACCJPT Jeovana Gomes da Silva, vive no
assentamento há 15 anos, onde mantém um meliponário com 37 caixas de abelhas
nativas sem ferrão, de espécies como a Jandaíra, Moça Branca, Uruçú, Mosquito e
Cupira.
A produção de mel das duas
caixas das pequenas abelhas Mosquito é pouca – cerca de meio litro por ano,
dependendo da florada –, mas, em razão da grande procura devido às suas
propriedades medicinais, cada litro de mel chega a ser comercializado por até
R$ 200.
O litro do mel produzido
pelas dez caixas de abelhas Moça Brancas e Uruçú também pode chegar a R$ 200. E
cada litro de mel produzido nas 25 caixas de Jandaíra pode ser comercializado
por até R$ 100.
Seu Arunda também fabrica
e vende as caixas desenvolvidas por ele para a criação das abelhas nativas,
obtendo mais uma fonte de renda para a família. Segundo ele, para que as
abelhas nativas se mantenham produtivas e organizadas é necessário contar com
um bom pasto apícola de onde possam retirar o néctar e o pólen. Por isso, ele
replanta nos arredores de casa e no lote, espécies de árvores que aumentam as
alternativas florais para as abelhas.
“Quando se planta para
colher cedo, também se acaba cedo! Quando se planta para colher tarde se tem
mais prosperidade. Por isso, planto árvores e crio abelhas nativas,
contribuindo com o meio ambiente”, afirmou o agricultor assentado.
Outra experiência foi
apresentada por Érika de Almeida Bezerra, filha dos assentados Rita de Almeida
e Laerte Bezerra, do Assentamento José Horácio, no município de Alagoa Grande
(PB). A experiência de criação de perus é acompanhada pela técnica em
agropecuária do Ipema Vera Lúcia Francelino.
A família mantém a criação
de perus desde os tempos da avó de Rita, que, com o passar dos anos, acumulou
vastos conhecimentos medicinais na criação dos animais. Os cuidados
preventivos, baseados na fitoterapia, envolvem a utilização do limão na água
para evitar as corizas conhecidas como gogo.
A semente do mastruz é
usada na alimentação dos filhotes recém-nascidos para evitar vermes e
resfriados. E é utilizado babosa na cura da bouba aviária, que se apresenta na
forma de caroços nas aves.
De acordo com Érika, a
higiene do galinheiro possui um papel importante na criação das aves. Por isso,
é realizada com plantas de cheiro forte, como a arruda, o cravo-de-defunto ou
meladinha, que ajudam na prevenção a outros tipos de infecção e micróbios. (Perspectivas)
De acordo com os
participantes, o seminário contribuiu para a ampliação de conhecimentos
necessários à conservação das raças e para o fortalecimento da luta por
políticas públicas para a valorização das raças nativas.
As equipes de Ater, com o
apoio de entidades parceiras, se comprometeram a realizar pesquisas e projetos
para o resgate do conhecimento tradicional e para a conservação da
biodiversidade animal do Semiárido paraibano nos assentamentos da reforma
agrária.
Também devem ser
estimuladas a troca de animais entre guardiões de raças nativas para a
ampliação da biodiversidade, e a catalogação das raças nativas existentes nos
territórios para conhecimento do valor genético e cultural das criações.
Para isto, foi acordado
que deve haver uma maior qualificação das equipes de assessoria técnica para
lidar com o tema junto às famílias em transição agroecológica.
A necessidade de projetos
de investimento produtivo para as iniciativas de preservação das raças nativas
também foi discutida, assim como o estímulo à pesquisa participativa por parte
das assessorias e das universidades e institutos de pesquisa.
Fonte: Assessoria de
Comunicação Social do Incra/PB
Nenhum comentário:
Postar um comentário