sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Criação de raças nativas é determinante para resiliência das famílias agricultoras no Semiárido

O resgate, a conservação e a valorização das raças nativas de animais do semiárido brasileiro foi o grande compromisso assumido por todas as organizações que estiveram presentes no Seminário Raças Nativos na Agricultura Familiar Agroecológica, realizado nos últimos 17, 18 e 19 de novembro, no Santuário Padre Ibiapina, município de Arara (PB).

O evento foi promovido pelo Núcleo de Extensão Rural Agroecológica (Nera), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em parceira com o Instituto de Assessoria a Cidadania e ao Desenvolvimento Local Sustentável (IDS) e as organizações da Articulação do Semiárido Paraibano, como:

o Coletivo das Organizações da Agricultura Familiar do Cariri, Seridó e Curimataú, o Patac, o Pólo Sindical da Borborema, a AS-PTA e o Coletivo ASA Cariri Oriental (Casaco).

O seminário teve como objetivos aprofundar a reflexão sobre a importância das raças nativas na agricultura familiar de base agroecológica para a convivência com o Semiárido; analisar a influência das especializações e suas ameaças ao sistema de criação animal agroecológico.

E refletir sobre o papel das políticas públicas governamentais voltadas para a criação animal; e identificar desafios e perspectivas no sentido de fortalecer o resgate das raças nativas para as famílias agricultoras e de áreas de reforma agrária.

Para o debate dessas questões contou também com a participação da Red Conbiand, uma articulação ibero-americana que reúne pesquisadores de cerca de vinte países que estudam raças nativas e adaptadas para o desenvolvimento sustentável.

Dois pesquisadores da Red estão presentes no encontro, Maria Esperanza Camacho, pesquisadora do Instituto Andaluz de Investigación y Formación Agraria y Pesquera, juntamente com Juan Vicent Delgado Bermejo, pesquisador da Universidad de Córdoba.

Quatro experiências de agricultores guardiões de raças nativas de animais foram apresentadas no primeiro dia do evento e alimentaram o debate e as decisões assumidas como compromissos e definições para encaminhamentos .

Edivan, do Coletivo Regional, mostrou a sua experiência na criação de caprinos em fundo de pasto. Uma estratégia que consiste na ausência de cercas entre as propriedades vizinhas, possibilitando uma maior área para a pastagem para os animais de todas as famílias da comunidade. Dona Maria apresentou as suas aves nativas e o seu conhecimento sobre o tratamento fitoterápico de perus, galinhas, patos, gansos e guinés.

 Seu Arunda compartilhou a sua história na preservação das abelhas nativas do semiárido, tais como a “mosca branca” e a “abelha mosquito”. O casal Luizinha e Zé Paulo apresentou os porcos da raça local “casco de burro”. Durante o evento, esses agricultores e agricultoras receberam certificados de guardiões e guardiãs de raças nativas.

Ao final do evento, as cerca de 80 pessoas participantes das diversas entidades citadas afirmaram: que o seminário contribuiu para uma maior apropriação de conhecimentos para conservação das raças, que melhorou a força e animação para lutar por políticas públicas adequadas a valorização das raças nativas.

Outra afirmação construída neste espaço de debate e troca de conhecimentos, foi a de que são as famílias agricultoras as guardiãs das raças nativas. No último dia do Seminário, também foram pontuados os desafios e as propostas para sua superação, que segundo Maria da Gloria da ASA-PB.

E devem ser “construídas juntamente com as famílias agricultoras, por meio da partilha dos conhecimentos acumulados pela trajetória de camponesas e camponesas que produzem alimentos e cultura no semiárido, onde a vida pulsa”, afirmou.

Assim, é por meio dos intercâmbios, do fortalecimento do GT de criação da ASA-PB, da pesquisa participante e das políticas adaptadas à realidade que se pretende superar os desafios de encontrar, conservar, manejar de forma sustentável e dar visibilidade à biodiversidade animal presente no Semiárido paraibano e brasileiro.

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