O feijão, que teve
comercialização autorizada em 2011, é suscetível a uma praga não identificada
nos estudos iniciais; isso mostra que as pesquisas para liberação dessas
sementes são insuficientes. A Embrapa pretende continuar investindo na pesquisa
de novos tipos de feijão geneticamente modificado.
São Paulo – A Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, deverá lançar em 2016 o primeiro feijão
geneticamente modificado do mundo.
O primeiro também
totalmente desenvolvido por uma empresa pública. A promessa é de uma planta
capaz de resistir ao vírus do mosaico dourado, transmitido pela mosca branca. A
liberação comercial já tinha sido aprovada pela Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBio) em setembro de 2011.
De acordo com a empresa,
durante o desenvolvimento do feijão foi identificado o ataque de um outro
vírus, o Carlavírus, que afeta também o feijão convencional. Sua incidência era
ofuscada pelo vírus do mosaico dourado, que é muito mais agressivo. E que para
garantir a qualidade da produção, foram feitos novos testes, inclusive de
práticas de manejo, capazes de reduzir os danos causados pela nova virose.
Para o dirigente da
Associação Brasileira de Agroecologia, o agrônomo Leonardo Melgarejo, a
descoberta do ataque de um novo vírus ao feijão transgênico demonstra a
insuficiência das pesquisas realizadas para liberação dos organismos
geneticamente modificados.
“Se a posteriori o feijão
veio a ser afetado por uma nova praga, invalidando a vantagem conseguida contra
o primeiro vírus, significa que foi pouco estudado a priori, quando teve
liberação para comercialização pela CTNBio. Se essa suscetibilidade não era
conhecida, é porque os estudos foram insuficientes”, diz Melgarejo.
De acordo com ele, a
Embrapa falava em milhões de toneladas a mais pela perspectiva de zerar a perda
com base nas experiências. "Porém, no campo, o feijão depara com outras
condições além daquelas em que foram testadas." A Embrapa defende-se.
Segundo norma técnica distribuída pela assessoria de comunicação, a CTNBio
aprovou a liberação comercial do feijão transgênico resistente ao mosaico
dourado em setembro de 2011, antes da conclusão do seu desenvolvimento.
Com a liberação, segundo a
empresa, foi possível avançar no desenvolvimento, finalizado neste ano, com
ensaios de valor de cultivo e uso. Exigidos pelo Ministério da Agricultura,
esses testes são essenciais para o conhecimento e seleção do material genético.
Um pedido de proteção e registro do feijão está sendo analisado pelo Serviço de
Registro Nacional de Cultivares do Mapa. Os critérios de avaliação e validação
para uso comercial são os mesmos das sementes convencionais.
A empresa ressaltou que há
diferenças entre os processos de pesquisa envolvendo transgênicos de empresas
privadas e públicas. Ao contrário das privadas, que avançam nas pesquisas em
campo mesmo antes da aprovação, as empresas públicas, que contam com recursos
públicos, só desenvolvem os grãos quando há liberação comercial pela CTNBio.
Na segunda-feira (24), o
senador Álvaro Dias (PSDB-PR) protocolou ofício no gabinete da ministra da
Agricultura Katia Abreu requerendo informações sobre o atraso no lançamento do
feijão. Na carta, de cinco páginas, o senador tucano requer os “reais motivos
que impediram, até o momento, que uma tecnologia genuinamente brasileira fosse
disponibilizada para milhares de agricultores de todo o Brasil, muitos do
Paraná, maior produtor do país”.
O tucano afirma que “a
introdução do feijoeiro geneticamente modificado, cultura largamente praticada
por pequenos agricultores, desde o seu trâmite na CTNBio, sofre fortes ataques
de grupos com orientação ideológica contrária ao uso de transgênicos.
Especialmente pelo fato de se tratar de uma biotecnologia nacional destinada a
pequenos agricultores, o que fragiliza o argumento de ser a biotecnologia
moderna um produto de multinacionais direcionado aos grandes agricultores”. Soja
transgênica:
Esta semana, a Embrapa
lançou uma variedade de soja transgênica desenvolvida com tecnologia totalmente
nacional. A variedade Cultivance, resistente a um grupo de herbicidas, é uma
parceria com a Basf. O agrônomo Leonardo Melgarejo avalia como positiva a volta
da Embrapa à liderança na produção de sementes.
Entretanto, critica a
opção por organismos geneticamente modificados. "Pode liderar com sementes
amigáveis ao meio ambiente, adaptadas às mudanças no clima nesse período, que
ocorreram rapidamente. E mais produtivas, o que se consegue com manejo, e não
combate químico a esta ou aquela erva daninha."
Outra crítica é quanto à
promessa de a semente poder ser cultivada em todo o país. "É como se
admitir que todo o país tem o mesmo clima. Por isso, não é possível plantar
macieira na Amazônia e cupuaçu no Rio Grande do Sul. Uma variedade que dá em
São Paulo não dá em todos os cantos do país. Uma soja boa para o Sul não é boa
para o Centro-Oeste."
Fonte: asaparaiba