terça-feira, 25 de novembro de 2014

Encontro Territorial reúne 120 pessoas envolvidas com o P1+2 nos territórios do Sisal e Bacia do Jacuípe

Mirian Oliveira; Serrinha | BA; Em todo encontro de agricultores/as familiares a troca de experiências se faz presente | Foto: Arquivo Apaeb

"Aqui é minha terra, vou construir meu sonho aqui! Surgiu o projeto das cisternas, entrei no curso, tive dificuldades, mas venci e hoje construo cisternas e quero ver o povo produzir nem que seja um pé de pimenta para comer meio dia", afirmou o pedreiro Erinilton Araújo.

Essa foi uma das muitas falas que marcou o Encontro Territorial realizado pela Apaeb, nos dias 19 e 20, em Serrinha. O encontro reuniu mais de 120 pessoas dos municípios de Cansanção, Queimadas, Nordestina, Teofilândia, Capela do Alto Alegre e Serrinha.

Além de pedreiros estiveram presentes agricultores e agricultoras que conquistaram as tecnologias que armazenam água da chuva para produção de alimentos e criação animais, além de membros das comissões municipais e representantes dos governos municipais.

A troca de experiência começou logo no início do encontro. Cada município trouxe algo que o representasse e contou sua história numerando suas dificuldades e qualidades. Durante os dois dias do encontro, os agricultores puderam expor e comercializar os produtos produzidos por eles na pequena Feira Compartilhada.

 Por lá, era possível encontrar artigos artesanais como chapéus de palha de diversos modelos, peças de argila, peças de crochê, bolsas de palha, tapetes de palha entre outros. Para saborear, tinha deliciosas cocadas de coco, além de ovos, couve, coentro, pepino e uvas, o que não é típico da região, mas estava presente.

O primeiro dia foi marcado pelo debate sobre acesso ao crédito que teve o apoio da cooperativa de crédito Ascoob Sisal, que tirou dúvidas dos agricultores sobre esse assunto. Na sequência, Luiz Lisboa, colaborador da Apaeb Serrinha, destacou a importância da agroecologia e da agricultura familiar.

 “Não é só a mulher, o homem, os filhos precisam trabalhar o conceito agroecológico. Não se faz agroecologia sem cuidar de todos os recursos naturais por igual. Por isso não podemos queimar, desmatar, jogar lixo a céu aberto, usar veneno. Temos que entender que a agricultura familiar tem uma marca e que esta marca tem que ser entendida, a qual é a marca da família, da agroecologia’’, ressaltou Luiz.

Na sequência, a palavra foi dada ao agricultor Cordeiro Peixoto, que há mais de 30 anos cultiva hortaliças e que há dois anos conquistou uma cisterna de enxurrada o que potencializou sua produção. Hoje ele colhe por semana mais de 400 pés de coentro e alface e vende na feria livre do seu município.

A proposta da participação desse agricultor era incentivar os mais de 100 agricultores ali presentes e mostrar que é sim possível produzir com pouca água, já que no município onde Cordeiro vive [Capela] passa por um longo período de estiagem. Na sua fala, Cordeiro destacou a importância do uso de defensivos naturais.

 “Eu tenho tantos clientes que compram porque não uso agrotóxico e se eu usar vão deixar de comprar”. Cordeiro ainda citou diversas técnicas de plantio, de adubos e exemplos práticos de defensivos naturais, como a urina bovina.

O encontro não ficou restrito apenas a plenária e palestras. Além da Feira Compartilhada, um espaço aberto à visitação pública, teve a noite cultural tipicamente nordestina com um forró pé de serra para alegrar o povo, esquentar a temperatura e festejar a chuva que caia naquela noite.

A programação para o dia 20 ficou por conta da equipe de comunicação, que trouxe para os presentes questionamentos sobre a comunicação como instrumento de participação social enfocando os boletins e banners de experiências como fortalecimento das ações desenvolvidas pelos agricultores/a.

Por fim, foi convidado um agricultor que já teve sua história sistematizada para falar da experiência, que disse ter se sentido representado como o boletim e o banner e que as duas peças servem como divulgação do seu trabalho e ajudam nas vendas dos seus produtos.

Após Silvaney Santiago, um dos coordenadores da Apaeb, trazer para discussão o tema autonomia e gestão, chegou o momento da avaliação das ações que estão sendo realizadas para que as famílias agricultoras tenham acesso à água para criação animal e produção de alimentos. Este foi o momento de apontar as falhas os acertos e dar sugestões para os próximos projetos que estão por vir.

Para agricultora Valdineia Valéria, da comunidade Lagoa do Canto, em Teofilândia, o projeto não contribui apenas com a tecnologia em si, mas também com o resgate das culturas das comunidades."São inúmeras contribuições. É poder aumentar a renda familiar e de certa forma trouxe as raízes que estavam adormecidas.

A gente passava necessidade e não percebia que podia daquilo que já existe tirar o nosso sustento. E durante os cursos a gente resgatou isso. E depois da tecnologia a gente viu que pode tirar o nosso próprio sustento do nosso quintal.

Tenho uma cisterna-calçadão e produzo já a couve, coentro e, a princípio, é somente para o consumo, e depois com certeza comercializar. Amei o evento. Foi maravilhoso, rever pessoas, pegar experiências com outros municípios, trocar experiências as quais vou levar comigo para vida toda’’, disse Neia, como gosta de ser chamada.

As ações avaliadas fazem parte do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), e são financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Fonte: http://www.asabrasil.org.br/

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