O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é médico
infectologista formado pela Universidade de Campinas (Unicamp), com
pós-graduação pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como coordenador do
Núcleo de Extensão em Medicina Tropical da USP em Santarém, no Pará. Carrega na
bagagem a experiência de atuar, durante muitos anos, junto à população mais
carente do País. Essa vivência motivou o ministro a implantar o Programa Mais
Médicos, lançado no mês passado pela presidenta Dilma Rousseff. Nesta
entrevista exclusiva ao PT na Câmara, Padilha pontua o alcance e a importância
das medidas estruturantes que serão implementadas a partir da instituição do
programa. PT na Câmara: O programa tem como objetivo equacionar
um dos gargalos da saúde pública do País que é a presença do médico em todos os
municípios do Brasil. O senhor acredita que o programa vai alcançar esse
objetivo? Alexandre Padilha: O esforço do Programa Mais
Médico é estimular médicos brasileiros que queiram ir para a periferia das
grandes cidades e municípios do interior. Eles vão receber R$10 mil líquidos
mensais do Ministério da Saúde. Além disso, terão apoio para deslocamento e
acompanhamento pela universidade. Nos primeiros 15 dias de inscrições, tivemos
mais de 1600 médicos que aceitaram esse desafio. Em setembro, os novos
contratados devem atender mais de seis milhões de brasileiros que não tinham
médicos perto da sua casa. PT na
Câmara: O programa,
além de suprir a deficiência de médico, pretende dar mais qualidade ao Sistema
Único de Saúde? AP: Juntamente com os médicos, está indo
recurso que amplia custeio para manutenção das unidades de saúde. Cem por cento
dos municípios que recebem os médicos nessa primeira etapa também já estão no
Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica
(PMAQ), que tem monitoramento do atendimento pelas universidades; e 100% dos
municípios também já executam obras para melhorar a infraestrutura. Ou seja, as
medidas em relação à infraestrutura e aumento do custeio já estão indo com os médicos. PT na Câmara: A deficiência no número de médicos em
relação ao número de habitantes não tem a ver com o currículo dos cursos de
medicina? AP: Além da urgência de termos mais médicos no
Brasil, é muito importante uma mudança na formação do profissional médico hoje.
Esse profissional, atualmente, passa por uma especialização precoce e, muitas
vezes, passa o curso inteiro sem um contato mais permanente com a realidade do
povo brasileiro. PT na Câmara: O senhor pode detalhar melhor essa
questão? AP: Vou citar um exemplo concreto: um estudante de
medicina, hoje, durante os seis anos, não tem a oportunidade de acompanhar a
mesma gestante do pré-natal aos nove meses de gravidez; não acompanha o parto
dessa gestante e nem faz o acompanhamento da criança dessa gestante nos
primeiros seis meses de vida. Isso demonstra que precisamos fazer uma mudança
na formação do profissional médico. O Programa Mais Médicos também prevê o
aumento desse contato, e, com isso, formaremos médicos cada vez mais
qualificado, conhecendo mais a realidade do nosso povo. PT na Câmara: Houve por parte de algumas entidades médicas
a tentativa de boicotar o programa. Porque aquele que jurou salvar vidas se
recusa a participar ou defender um programa que tem esse objetivo? AP: Eu
respeito qualquer tipo de crítica ou manifestação que vise ao aprimoramento. O
Congresso Nacional vai aprimorar a proposta. Estamos debatendo, acompanhando, e
todas as sugestões são bem-vindas. O que lamento são as atitudes que tentam
prejudicar a população. Lamento, por exemplo, que se cancele cirurgias ou
exames, prejudicando, exatamente, a população que usa os serviços do SUS e que
necessita desse atendimento. Como também lamento qualquer postura que tenha
servido para postergar a chegada dos médicos à população. PT na Câmara: Pesquisa recente aponta que a população
começou a perceber a importância do programa. E, que, a maioria aprova a
criação do Mais Médicos. Qual a avaliação o senhor faz dessa pesquisa?
AP: A população começa a perceber que o governo federal está usando
todas as estratégias possíveis para atacar um problema emergencial. Temos
municípios e unidades de saúde que não têm médico na atenção básica que atue
nos primeiros cuidados e que resolveria 80% dos problemas de saúde. Através do
Programa Mais Médicos estamos oferecendo infraestrutura, ampliando vagas, dando
oportunidade para jovens que querem fazer medicina. Além disso, estamos dando
oportunidade aos médicos que se formam de poderem fazer especialização através
da residência médica. Acredito que, aos poucos, estamos mostrando à população
que esse programa não tira emprego de nenhum médico brasileiro e, sim, dá mais
oportunidade a esses profissionais de poderem trabalhar. São 35 mil postos de trabalho
criados com os investimentos de infraestrutura. Todas essas ações estão sendo
avaliadas positivamente pela maioria da população. PT na Câmara: E
sobre a polêmica em torno da vinda dos médicos estrangeiros? AP: Os
médicos formados em outros países só virão trabalhar nas vagas não ocupadas por
médicos brasileiros. É um programa que vai fazer uma avaliação da qualidade dos
médicos que venham a trabalhar no Brasil. A população está entendendo isso e
certamente vai entender ainda mais quando esses médicos chegarem para trabalhar
a partir de setembro. PT na Câmara: Ministro, as manifestações contrárias
levaram o senhor a pensar, em algum momento, em desistir do programa? AP: Pelo
contrário. Sou um ministro que não fica parado em gabinete. Vou às unidades de
saúde, aos hospitais. A realidade de saúde do nosso povo só reforça a
importância desse programa. Iremos até o fim com ele. O que nos move é levar
médicos para a população que hoje não tem médico perto. Usaremos todas as
estratégias possíveis para levar profissionais médico. Leia também: Mais de 70% dos médicos cubanos vão
para o Norte e Nordeste. "O motivo do Mais Médicos é para
suprir as necessidades do país"
Fonte: www.vermelho.org.br
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