sábado, 20 de julho de 2013

'Papa irá conclamar governos a escutar as ruas', diz Leonardo Boff

O teólogo, escritor e professor Leonardo Boff,74, deixou de lado o pessimismo com os rumos da Igreja Católica que marcaram suas análises durante os pontificados de João Paulo 2º e Bento 16. Desde a ascensão de Francisco, o teólogo, que foi membro da Ordem dos Frades Menores, os Franciscanos, passou a cultivar esperança com o futuro da Igreja. Boff, que nos próximos dias lançará o livro "Francisco de Assis e Francisco de Roma", acredita que o novo pontífice colocará a Igreja ao lado dos pobres, aproximando-se do dos preceitos da Teologia da Libertação, movimento que reformulou a atuação da Igreja na América Latina e do qual Boff é um dos maiores expoentes. Em entrevista ao UOL, o teólogo afirmou que Francisco irá, durante a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, que começa na próxima segunda-feira (22), "conclamar os governos a escutar as ruas" e indicará "as linhas básicas que darão a tônica de seu pontificado". Ele também revelou que o pontífice tem ligações estreitas com a tendência argentina da Teologia da Libertação. UOL - Qual é o significado da Jornada Mundial da Juventude para a Igreja Católica? Leonardo Boff - A intenção originária, de João Paulo 2º e Bento 16, era dar visibilidade à Igreja Católica. Com o processo de secularização, o sagrado na Igreja ficou restrito às imagens. A outra dimensão é de dar mais visibilidade à Igreja e ao cristianismo. O papa Francisco vai ter uma visão mais aberta. Ele coloca o acento não na Igreja, mas nos povos do mundo. Ele enfatiza que Deus é de todos, não só dos católicos. O papa admite que a Igreja e todos nós estamos confusos sobre o caminho da humanidade, mas temos que cuidar da terra, de um dos outros, caso contrário vamos ao encontro de uma grande catástrofe. Ele procura descobrir como o cristianismo pode ajudar a evitar essa catástrofe. UOL - O evento pode influir nos rumos da Igreja, impulsionar reformas? Leonardo Boff - Antes de iniciar reformas na Cúria Romana, Francisco reformou o próprio papado. Ele é um papa que deixa o palácio, mora onde todos os hóspedes moram, renuncia a títulos de poder, se sente mais Bispo de Roma do que papa e pede para não ser chamado de sua santidade. Com isso, ele quer dizer 'nós somos irmãos ou irmãs', 'estou no meio de vocês'. É uma perspectiva diferente, mais ligada à vida cotidiana dos fieis, à capacidade de perdão e misericórdia. Na Jornada, ele dará as linhas básicas que vão ser a tônica do seu papado. Ele já deu sinais de que defende a abertura de diálogo com judeus e muçulmanos. UOL - O senhor enxerga no papa Francisco ligação com os pressupostos da Teologia da Libertação? Leonardo Boff - As intuições básicas da Teologia da Libertação estão presentes no discurso dele. A primeira frase mais forte que ele disse no dia seguinte à eleição, foi de que ele gostaria de uma Igreja pobre para os pobres. E ele era adepto de uma das vertentes da Teologia da Libertação, que era própria da Argentina, que é a teologia do povo, teologia da cultura popular. A Teologia da Libertação tinha muitas tendências. Na Argentina predominou essa, que vem do justicialismo (movimento político de apoio ao Partido Justicialista, de Juan Domingos Perón).

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