quinta-feira, 20 de junho de 2013

Começa campanha por beatificação de D. Elder Câmara

A proposta será debatida com o papa Francisco no próximo mês, no Rio de Janeiro, durante a sua viagem ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Desde o trabalho que realizou no Rio de Janeiro a partir dos nos 60, d. Elder foi considerado um “inimigo público número um” pela direita. Por Dermi Azevedo

O arcebispo emérito de Olinda e Recife, d. Elder Câmara, poderá ser proclamado beato da Igreja Católica Romana se o papa aceitar as milhares de assinaturas que estão sendo recolhidas no Brasil e no exterior, com esse pedido. A proposta será debatida com o papa Francisco no próximo mês, no Rio de Janeiro, durante a sua viagem ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. E conhecido o comentário, na Igreja Católica Romana, de que d. Elder já possuía em vida o título de cardeal in pectore, ou seja, um tipo de nomeação secreta feita pelo papa, no caso Paulo VI, a um dos seus colaboradores de estrita confiança. A escolha de um novo santo não depende apenas do pontífice, por causa do poder da Cúria Romana na definição dos novos modelos de vivência cristã. O impacto da medida poderá, contudo, influir na escalada do indiferentismo religioso no continente latino-americano. Outras propostas de beatificação continuam pendentes nas gavetas da 'Congregação Para a Causa dos Santos do Vaticano'. Entre elas, incluem-se as do arcebispo espanhol Bartolomeu de lãs Casas, que condenou as crueldades dos colonizadores europeus contra os povos indígenas da América Latina e que é considerado como uma das principais referências da Teologia da Libertação. Esta também parado o processo de beatificação do arcebispo de San Salvador, em El Salvador, d. Oscar Arnulfo Romero. Ele foi assassinado a tiros por militares quando estava celebrando missa em sua igreja arquiepiscopal. “Inimigo Publico” Desde o trabalho que realizou no Rio de Janeiro a partir dos nos 60, d. Elder foi considerado um “inimigo público número um” pela direita. Assim que houve o golpe em 31 de março de 1964, d. Elder recebeu um mensageiro do dono das Organizações Globo, jornalista Roberto Marinho, com um texto em que d. Elder daria apoio a iniciativa golpista. O bispo recusou a proposta e rompeu relações com Marinho, de quem fora padrinho de casamento. Transferido para Recife a 12 dias do golpe militar, dirigiu uma mensagem apresentando as prioridades do seu trabalho; “ninguém se escandalize quando me vir frequentando criaturas tidas como indignas e pecadoras. Quem não é pecador; Quem pode jogar a primeira pedra; Nosso Senhor, acusado de andar com publicanos e almoçar com pecadores, respondeu que justamente os doentes e que precisam de médico. Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, ante reformistas ou reformistas, ante revolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boa ou de má-fé. Ninguém pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens. A ninguém devo excluir do dialogo fraterno." A resposta dos golpistas veio de forma indireta; um dos mais próximos colaboradores de d. Elder, o padre Antonio Henrique Pereira Neto, foi sequestrado, humilhado e morto em 20 de maio de 1969 por policiais civis. Na missa de sétimo dia, d. Elder afirmou que “da eternidade, de junto de Deus, o padre Antonio Henrique pede aos responsáveis pela ordem pública que, quanto antes, termine as medidas de exceção que estão tornando impossível o uso de processos democráticos da parte dos cidadãos em geral e, especialmente, dos estudantes e dos trabalhadores. A situação presente cria clima propício a arbitrariedades e abusos, a crimes (e não seria difícil apontar casos, de que são tristes exemplos os esquadrões da morte) a situação presente impele os mais impacientes para a clandestinidade, a radicalização e a violência”. O ódio da ditadura a d. Elder chegou ao máximo quando o arcebispo denunciou, em Paris, já nos anos 70, o uso sistemático da tortura contra os dissidentes políticos no Brasil. Os militares proibiram a publicação de qualquer entrevista de d. Elder pelos meios de comunicação. O segundo tema proibido pela censura era o dos direitos humanos.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br

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