A proposta será debatida com o papa Francisco no próximo mês, no Rio de Janeiro, durante a sua viagem ao Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Desde o trabalho que realizou no Rio de Janeiro a partir dos nos 60, d. Elder foi considerado um “inimigo público número um” pela direita. Por Dermi Azevedo
O arcebispo emérito de
Olinda e Recife, d. Elder Câmara, poderá ser proclamado beato da Igreja
Católica Romana se o papa aceitar as milhares de assinaturas que estão sendo
recolhidas no Brasil e no exterior, com esse pedido. A proposta será debatida
com o papa Francisco no próximo mês, no Rio de Janeiro, durante a sua viagem ao
Brasil por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. E conhecido o comentário,
na Igreja Católica Romana, de que d. Elder já possuía em vida o título de
cardeal in pectore, ou seja, um tipo de nomeação secreta feita pelo
papa, no caso Paulo VI, a um dos seus colaboradores de estrita confiança. A
escolha de um novo santo não depende apenas do pontífice, por causa do poder da
Cúria Romana na definição dos novos modelos de vivência cristã. O impacto da
medida poderá, contudo, influir na escalada do indiferentismo religioso no
continente latino-americano. Outras propostas de beatificação continuam
pendentes nas gavetas da 'Congregação Para a Causa dos Santos do Vaticano'.
Entre elas, incluem-se as do arcebispo espanhol Bartolomeu de lãs Casas, que
condenou as crueldades dos colonizadores europeus contra os povos indígenas da
América Latina e que é considerado como uma das principais referências da
Teologia da Libertação. Esta também parado o processo de beatificação do
arcebispo de San Salvador, em El Salvador, d. Oscar Arnulfo Romero. Ele foi
assassinado a tiros por militares quando estava celebrando missa em sua igreja
arquiepiscopal. “Inimigo Publico” Desde
o trabalho que realizou no Rio de Janeiro a partir dos nos 60, d. Elder foi
considerado um “inimigo público número um” pela direita. Assim que houve o
golpe em 31 de março de 1964, d. Elder recebeu um mensageiro do dono das
Organizações Globo, jornalista Roberto Marinho, com um texto em que d. Elder
daria apoio a iniciativa golpista. O bispo recusou a proposta e rompeu relações
com Marinho, de quem fora padrinho de casamento. Transferido para Recife a 12
dias do golpe militar, dirigiu uma mensagem apresentando as prioridades do seu
trabalho; “ninguém se escandalize quando me vir frequentando criaturas tidas
como indignas e pecadoras. Quem não é pecador; Quem pode jogar a primeira
pedra; Nosso Senhor, acusado de andar com publicanos e almoçar com pecadores,
respondeu que justamente os doentes e que precisam de médico. Ninguém se
espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda
ou da direita, da situação ou da oposição, ante reformistas ou reformistas,
ante revolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boa ou de má-fé. Ninguém
pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os
seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu
coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos
os homens. A ninguém devo excluir do dialogo fraterno." A resposta dos
golpistas veio de forma indireta; um dos mais próximos colaboradores de d.
Elder, o padre Antonio Henrique Pereira Neto, foi sequestrado, humilhado e
morto em 20 de maio de 1969 por policiais civis. Na missa de sétimo dia, d.
Elder afirmou que “da eternidade, de junto de Deus, o padre Antonio Henrique
pede aos responsáveis pela ordem pública que, quanto antes, termine as medidas
de exceção que estão tornando impossível o uso de processos democráticos da
parte dos cidadãos em geral e, especialmente, dos estudantes e dos
trabalhadores. A situação presente cria clima propício a arbitrariedades e
abusos, a crimes (e não seria difícil apontar casos, de que são tristes
exemplos os esquadrões da morte) a situação presente impele os mais impacientes
para a clandestinidade, a radicalização e a violência”. O ódio da ditadura a d.
Elder chegou ao máximo quando o arcebispo denunciou, em Paris, já nos anos 70,
o uso sistemático da tortura contra os dissidentes políticos no Brasil. Os
militares proibiram a publicação de qualquer entrevista de d. Elder pelos meios
de comunicação. O segundo tema proibido pela censura era o dos direitos
humanos.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário