Em artigo publicado na
revista Carta Capital que circula esta semana, o sociólogo Marcos Coimbra traz
os dados de uma pesquisa nacional feita recentemente pelo instituto Vox Populi,
presidido por ele, em que 48% dos entrevistados disseram simpatizar com algum partido.
Só que 80% das respostas se restringem a apenas três partidos: o PT, com 28%
das respostas, o PMDB, com 6% e o PSDB com 5%. Os demais 26 partidos dividem os
20% restantes de simpatia. O parágrafo transcrito a seguir explica a voracidade
e a virulência dos contínuos ataques de certa mídia ao Partido dos
Trabalhadores. “A proeminência do PT é ainda mais acentuada quando se pede ao
entrevistado que diga se “simpatiza”, “antipatiza” ou se não tem um ou outro
sentimento em relação ao partido. Entre “muita” e “alguma simpatia”, temos 51%
(ao PT). Outros 37% se dizem indiferentes. Ficam 11%, que antipatizam “alguma”
coisa ou “muito” com ele.” Vejam abaixo a íntegra do artigo. A Força da Imagem
do PT Ao contrário do que se costuma pensar, o sistema partidário brasileiro
tem um enraizamento social expressivo. Ao considerar nossas instituições
políticas, pode-se até dizer que ele é muito significativo. Em um país com
democracia intermitente, baixo acesso à educação e onde a participação
eleitoral é obrigatória, a proporção de cidadãos que se identificam com algum
partido chega a ser surpreendente. Se há, portanto, uma coisa que chama a
atenção no Brasil não é a ausência, mas a presença de vínculos partidários no
eleitorado. Conforme mostram as pesquisas, metade dos eleitores tem algum
vínculo. Seria possível imaginar que essa taxa é conseqüência de termos um
amplo e variado multipartidarismo, com 29 legendas registradas. Com um cardápio
tão vasto, qualquer um poderia encontrar ao menos um partido com o qual concordar.
Mas não é o que acontece. Pois, se o sistema partidário é disperso, as
identificações são concentradas. Na verdade, fortemente concentradas. O Vox
Populi fez recentemente uma pesquisa de âmbito nacional sobre o tema. Deu o
esperado: 48% dos entrevistados disseram simpatizar com algum partido. Mas 80%
desses se restringiram a apenas três: PT (com 28% das respostas), PMDB (com 6%)
e PSDB (com 5%). Olhado desse Modo, o sistema é, portanto, bem menos
heterogêneo, pois os restantes 26 partidos dividem os 20% que sobram. Temos a
rigor apenas três partidos de expressão. Entre os três, um padrão semelhante.
Sozinho, o PT representa quase 60% das identidades partidárias, o que faz com
que todos os demais, incluindo os grandes, se apequenem perante ele. Em resumo,
50% dos eleitores brasileiros não têm partido; 30% são petistas e 20%
simpatizam com algum outro – e a metade desses é peemedebista ou tucana. Do
primeiro para o segundo, a relação é de quase cinco vezes. A proeminência do PT
é ainda mais acentuada quando se pede ao entrevistado que diga se “simpatiza”,
“antipatiza” ou se não tem um ou outro sentimento em relação ao partido. Entre
“muita” e “alguma simpatia”, temos 51%. Outros 37% se dizem indiferentes. Ficam
11%, que antipatizam “alguma” coisa ou “muito” com ele. Essa simpatia está
presente mesmo entre os que se identificam com os demais partidos. É simpática
ao PT a metade dos que se sentem próximos ao PMDB, um terço dos que gostam do
PSDB e metade dos que simpatizam com os outros. Se o partido é visto com bons
olhos por proporções tão amplas, não espanta que seja avaliado positivamente
pela maioria em diversos quesitos: 74% do total de entrevistados o consideram
um partido “moderno” (ante 14% que o acham “ultrapassado”); 70% entendem que
“tem compromisso com os pobres”(ante 14% que dizem que não); 66% afirmam que
“busca atender ao interesse da maioria da população” (ante 15% que não
acreditam nisso). Até em uma dimensão particularmente complicada seu desempenho
é positivo: 56% dos entrevistados acham que “cumpre o que promete” (enquanto
23% dizem que não). Níveis de confiança como esses não são comuns em nosso
sistema político. Ao comparar os resultados dessa pesquisa com outras,
percebe-se que a imagem do PT apresenta uma leve tendência de melhora nos
últimos anos. No mínimo, de estabilidade. Entre 2008 e 2012, por exemplo, a
proporção dos que dizem que o partido tem atuação “positiva na política
brasileira” foi de 57% a 66%. A avaliação de sua contribuição para o
crescimento do País também se mantém elevada: em 2008, 63% dos entrevistados
estavam de acordo com a frase “O PT ajuda o Brasil a crescer”, proporção que
foi a 72% neste ano. O sucesso de Lula e o bom começo de Dilma Rousseff são uma
parte importante da explicação para esses números. Mas não seria correto
interpretá-los como fruto exclusivo da atuação de ambos. Nas suas três décadas
de existência, o PT desenvolveu algo que inexistia em nossa cultura política e
se diferenciou dos demais partidos da atualidade: formou laços sólidos com uma
ampla parcela do eleitorado. O petismo tornou-se um fenômeno de massa. Há, é
certo, quem não goste dele – os 11% que antipatizam, entre os quais os 5% que
desgostam muito. Mas não mudam o quadro. Ao se considerar tudo que aconteceu ao
partido e ao se levar em conta o tratamento sistematicamente negativo que
recebe da chamada “grande imprensa”- demonstrado em pesquisas acadêmicas
realizadas por instituições respeitadas – é um saldo muito bom. É com essa
imagem e a forte aprovação de suas principais lideranças que o PT se prepara
para enfrentar os difíceis dias em que o coro da indústria de comunicação usará
o julgamento do mensalão para desgastá-lo. Conseguirá?
*Marcos
Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi.
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