"Enfrentamos
duras batalhas para não perdermos nossas terras. Depois vimos que, se não
lutássemos, seríamos jogados em qualquer canto pelas empresas, sem nenhum
direito. Que bom celebrar a história num local de conquistas! Lutamos e
buscamos esta terra juntos. Além da terra, tínhamos que buscar as condições
para as famílias gerarem renda e agregar valor à produção.
Nesse
sentido, acessamos muitos programas, entre eles o Programa de Aquisição de
Alimentos, através do qual entregamos a nossa produção, os PAIS, e construímos
a micro-destilaria e a agroindústria. “Estas experiências estão viabilizando a
permanência dos agricultores na região e queremos levá-las para todo Brasil.”
São as palavras de Cleonira de Almeida, moradora do reassentamento São
Francisco de Assis, como dizia na placa ‘uma conquista do Movimento dos
Atingidos por Barragens', nas comemorações dos 20 anos do MAB, no interior de
Esmeralda, Rio Grande do Sul.
Os
campos ondulados, cheios de plantações e de verde que se vêem 360 graus, do
alto da coxilha onde fica o Ginásio da Comunidade São Francisco, dão um
sentimento de tranqüilidade e paz às centenas de pessoas presentes na festa de
comemoração. A alegria e o sentimento do dever cumprido estavam estampados no
rosto de todas e todos. E não revelavam as dores de anos atrás, a separação
obrigatória da terra, da casa e da comunidade de origem por causa da construção
das barragens de Itá e Machadinho no Rio Uruguai, o sofrimento da partida, das
lembranças e da infância que ficaram.
O
dia era 17 de dezembro de 2011. O convite dizia: "Ilmo. Sr. Selvino Heck.
O Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB - comemora neste ano '20 ANOS DE
LUTAS E CONQUISTAS'. A história dos Atingidos pro Barragens tem sido de lutas,
organização e também celebração de nossas conquistas. Nesse ano de 2011
completamos 20 anos de organização do MAB nacional e 30 anos de organização dos
Atingidos por Barragens na Bacia do Rio Uruguai.
Queremos
celebrar esse momento importante de nossa história, contando com a participação
de organizações e pessoas lutadoras que têm nos ajudado a construir o MAB. “Na
oportunidade também será feita a inauguração de um Programa de Produção
Agro-ecológica integrada sustentável – PAIS -, com o intuito de representar o
resultado das conquistas.”
O dia era de festa, em primeiro lugar. Mas as
palavras de ordem do Movimento ecoaram braços e punhos no ar, a dizer que a
luta continua: Água e energia não são mercadoria. Águas para a vida, não para a
morte.
Gilberto
Carvalho, Ministro-Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República,
enviou uma mensagem: "Quero enviar a vocês um forte e fraternal abraço, em
meu nome e em nome da presidenta Dilma Rousseff. Para mim, é motivo de muita
alegria ter podido testemunhar, ao longo desses anos, as conquistas e
consolidação do MAB, especialmente no âmbito da organização e formação de seus
militantes, defendendo direitos fundamentais para aqueles que mais precisam.
O
governo federal recebeu uma extensa pauta de reivindicações, que está sendo
objeto de negociações e encaminhamentos. “O Movimento participa da negociação
em torno da Plataforma Operário-camponesa de Energia, que já conseguiu pautar e
abrir o debate com o governo sobre o modelo energético brasileiro, num tema em
que há muito a avançar.” Termina o ministro Gilberto: "É papel de o
movimento criticar, cobrar, reivindicar e monitorar a execução das políticas
públicas. Mas temos um sonho em comum. Se pedimos a confiança em nossos
propósitos, queremos continuar sendo desafiados pela persistência e pelo vigor
da luta de vocês por um Brasil muito melhor.”
Em
nome do MAB nacional, Gilberto Cervinski encerrou o ato político: "O MAB
se consolidou enquanto movimento nacional por sua estratégia de ação, mas
também pelos apoios que teve e parcerias e alianças que fez. Se o Movimento tem
grandes amigos, tem também grandes inimigos, que o Movimento enfrentou e
enfrenta com bravura, sem nunca ter dúvida de que lado se posicionar. As
conquistas do MAB não vieram das mesas de negociação, mas porque o povo sempre
esteve em movimento, lutando para a garantia dos direitos.” Como eu disse na
minha fala, antes de ler a carta do ministro Gilberto: "Lutar vale a pena”.
E
como ninguém é de ferro, ainda mais em solo gaúcho, o ato e a festa terminaram
numa grande churrascada oferecida pelos moradores do reassentamento, com
direito a bolo de aniversário e apresentações culturais do Antônio Gringo e
cantadores populares.
Em
treze de janeiro de dois mil e doze.
Selvino
Heck
Assessor
Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Fonte: www.adital.com.br
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